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Polaroid

por Mariana, em 22.03.10

Peguei na Polaroid e fiquei a olhar para a máquina que tantos momentos registou.

A maquina que captou o meu sorriso quando relembravas em voz alta os nossos melhores momentos. A lente que usavas para tentar captar o brilho dos meus olhos. A lente que eu usava para tentar apanhar aquele teu jeito tão próprio que costumavas fazer com a boca quando eu te divertia. A lente que captou os nossos momentos. As nossas alegrias, as nossas lágrimas...

Lembro-me de quando a compraste e ma ofereceste. Deste-ma num banco de jardim. No nosso banco de jardim. Era uma novidade na altura. Explicaste-me para que servia. Que a podia usar para parar o tempo para sempre. Que podia registar os momentos que quizesse para depois os recordar, e partilhar. E aí fizemos uma promessa: registariamos todos os momentos. Toda a nossa história. Todo o nosso amor.

Passado algum tempo, na nossa primeira discussão percebi que não tinhas entendido a verdadeira dimensão da nossa promessa. Quando captei a lágrima que teimou em escapar da tua cara zangada, vi a tua expressão de confusão. Aí, expliquei-te que se iamos registar a nossa história, não poderiamos captar só os momentos bons. Tinhamos de captar os maus também. Pois era a partir deles que cresciamos. Senão como é que explicariamos a diferença entre uma foto e outra em que existia uma maior cumplicidade nos nossos olhares. Era através da discussão que o tinhamos conseguido.

Pensei que aí tinhas percebido a verdadeira dimensão da nossa promessa, mas ainda estranhaste quando te pedi para levares a Polaroid para o momento do parto da Joana. Afinal, como poderiamos deixar escapar a primeira respiração da nossa filha? do nosso fruto de amor? Captamos tudo o que podiamos captar. Acho que a história ficou bem documentada. As fotos do nosso casamento foram todas tiradas com a Polaroid. As fotos dos baptizados também. Os piqueniques, os recitais...

Milhares e milhares de fotos todas guardadas em caixas e caixas. Hoje, o dia é para isso. Para olhar para 50 anos de fotografias. Uma a uma. Sim, vou reviver cada momento. Vou reviver cada sorriso, cada lágrima, cada beijo, cada festa. Cada vestido, cada dia de férias, cada olhar, cada cumplicidade, cada saída, cada filha, cada neta, cada ruga, cada pingo de sabedoria que nos ía caindo na testa... Penso que sim, que conseguimos a proeza que mais ninguém conseguiu. Que mais ninguém tentou.

E ao guardar a fotografia tirada ontem no nosso último adeus, cai uma lágrima, simbolo de um até já, na minha Polaroid. Na nossa Polaroid.

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