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Equívoco II

por Mariana, em 15.09.11

Dez anos passaram e naquela aldeia tudo continuava igual. O mesmo café, a mesma mercearia, os mesmos carros, as mesmas pessoas. É certo que algumas já tinham morrido. Mas ninguém as tinha ido substituir. A aldeia continuava igual ainda que mais velha como que um quadro que ao longo do tempo foi perdendo a cor e a vida. Também o Sr. João estava igual: nem mais nem menos uma ruga. O cabelo e a barba estava brancos, tal e qual como há dez anos. Continuava a enfrentar o desdém e o silêncio das pessoas mas no fundo já se tinha habituado.

A sua rotina mantinha-se, mas passava agora mais tempo no banco do jardim municipal. Agora era ali que lia o seu jornal e passava o seu tempo livre. Tudo permanecia igual àquela manhã.

A verdade é que naquela manhã, quando o Sr João se dirigia para o parque com o jornal debaixo do braço, nada faria prever que a sua rotina mudaria num ápice. Estava ele a ler as notícias de economia no seu jornal quando, para o seu espanto, viu uma rapariguita sentar-se ao seu lado no banco de jardim que sempre ficava vazio. Lentamente baixou o jornal e olhou para ela à media que esta o analisava profundamente. 

-Olá! -disse ela com uma voz estridente e alegre.

-Olá...- respondeu-lhe o Sr João com uma voz rouca própria de quem já quase tinha esquecido de como falar.

-A minha mãe diz que não devo falar contigo!

-É? Mas estás a falar...

-Sim! Porque é que não posso falar contigo? A minha mãe não me conta! E diz que tu és perigoso.-disse a menina de uma só vez. Depois suspirou acrescentando- Eu não te acho perigoso...

O Sr João estava cada vez mais espantado com a menina. Ao perguntar-lhe o nome e a idade percebeu que Ana era a filha da mulher que ele mensalmente ajudava a controlar o orçamento oficial. Tinha agora 9 anos.

-Bom, aqui na aldeia muita gente tem uma ideia errada de mim...

-Porquê?

-Sabes, há dez anos atrás, eu era uma pessoa muito querida aqui. Ajudava as pessoas e elas gostavam muito de mim. Mas um dia fui levado para a esquadra porque uma amiga minha tinha sido morta...

-E quem era a tua amiga?

-A Clara era uma mulher que eu já conhecia há muitos e muitos anos. Era uma grande amiga minha e a minha única ligação com...

Ana viu o seu novo amigo calar-se de repente como que arrependendo-se do que estava prestes a dizer:

-De quem?

-Da minha filha... Há muitos anos atrás, a minha filha, na altura com apenas 20 anos, tomou uma decisão para o que queria fazer na sua vida e eu não aceitei. Na altura, portei-me muito mal e ela nunca me perdoou... A Clara era o meu único contacto com ela...

Ana viu que o Sr João não queria falar sobre isso e tentou mudar de assunto:

-Porque é que ninguém fala consigo então?

-No início a polícia achou que tinha sido eu o responsável mas depois libertaram-me. Mas ninguém acreditou em mim...

-Eu acredito!- e a boca de Ana abriu-se no maior sorriso que o Sr João viu desde há muito, muito tempo. 

 

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1 comentário

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audrey lou riddle a 16.09.2011

sim

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