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Porta

por Mariana, em 19.04.10

-Tu amas-me?- perguntou-me.

O seu olhar era franco, decidido, cansado. Cansado das respostas evasivas, cansado das aproximações frustradas, cansado das minhas atitudes. Era uma última pergunta, uma última opurtunidade ao amor que sentia, aos momentos que tinhamos passado.

Tudo tinha começado quando à um ano atrás o conheci. Era o fim de uma tarde. O fim de um Verão e eu estava na praia a aproveitar os últimos raios de sol. Ele passoua correr pela frente do mar, e num momento tapou-me o Sol. Foi ao levantar-me para ver o que se tinha passado que o vi pela primeira vez. Estranhamente não conseguia parar de olhar para ele. Parecia uma personagem retirada de um filme de Hollywood. Não era real. Só baixei os olhos, já envergonhada, quando ele reparou no meu olhar e o cruzou com o seu. Ao contrário do que esperava, não continuou a sua corrida. Parou e caminhou na minha direcção. Senti um estranho calor a subir-me pela minha cara e o vermelho tomou conta da minha face. Sentou-se num canto da minha toalha e cumprimentou-me: "Olá. Sou o Pedro. E tu?" Respondi, num murmúrio, muito envergonhada. E ele encontrou uma graça impossivel na minha resposta. Uma graça no meu sorriso envergonhado. Desenvolveu a conversa e fez várias perguntas. Aos poucos fui me soltando. Falamos durante horas e só me apercebi do tempo quando os últimos raios de Sol foram substituidos pelos primeiros raios lunares. Aí olhei para o relógio e murmurei que tinha de ir. Prometemos encontrar-mo-nos, mas não trocamos números de telefone. Queriamos que fosse o dsestino a escolher. Apesar disso, no dia seguinte voltei à praia. Tinha a esperança de voltar a encontrá-lo e ele fez o mesmo. Passamos o dia a falar, e com o passar dos dias, quando dei por mim, já gostava muito dele. Mais do que alguma vez tinha gostado de alguém. Descobri que ele pertencia a uma das famílias mais ricas da zona e deixei bem explícito que eu não era assim. Ele aceitou perfeitamente.

Depois chegou a altura de me apresentar à família. Estava mais nervosa de que alguma vez estivera. Quando a vi pela primeira vez, pareceu-me que gostava de mim. Percebi que não achava o nosso namoro muito sério, e entendi as perguntas, ainda que muito subtis, sobre a minha família e o meu património. Mas gostei. Gostei do ambiente que viviam naquela casa. Gostei da relação que ele tinha consigo. Da empatia profunda. Ansiava um dia, chegar à mesma empatia com ele. Mas não me deixou.

Naquele dia, pegou no telemóvel do Pedro e ligou-me pedindo para falar comigo. Eu aceitei, prontamente, nunca imaginando o assunto que queria tratar.

Quando cheguei à sua casa, falou comigo amigavelmente e percebi que já tinha entendido a profundidade da nossa relação. Explicou-me que copnhecia uma rapariga perfeita para o Pedro. Uma rapariga mais abastada. Uma rapariga melhor. Uma rapariga de quem ela gostava muito. Disse-me que se eu ficasse com ele, ele não veria um cêntimo da fortuna que era dele por direito. Explicou que por muito que me amasse ele não conseguiria viver sem o dinheiro a que fora sempre habituado. Eu não queria acreditar no que estava a ouvir. Mas a senhora sempre foi uma pessoa muito hábil com as palavras e conseguiu convencer-me de que eu não merecia o Pedro. Não foi muito difícil. Eu própria acreditava um pouco nisso.

Eu era uma menina ingénua, acreditava na força do destino que nos juntaria se assim quizesse.

Então quando ele me perguntou se o amava, lembrei-me das suas palavras, reprimi as lágrimas e a tristeza:

Não- menti. E, à medida que o seu rosto se inundava de dor, eu fechei lentamente a porta da minha felicidade.

 

 

 

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1 comentário

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Pedro Azevedo a 21.04.2010

Mariana :D

Pessoamente adoro a tua forma de escrita, muito objectiva mas ao mesmo tempo consegue ser abstracta e geral =D

Gosto de quando usas as comparações ! mesmo bom :)

Talvez devesses concorrer aos Concursos de Jovens Escritores :D

Beijocas :D

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